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O Castelo Que Me Pariu.jpg

minha vida com tê: 
estudos genealógicos

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"Minha Vida Com Tê: Estudos Genealógicos" é um livro de bolso que reúne 18 contos e autorretratos escritos por mim: uma moça que se entendeu mulher ao trocar cuidados com sua avó de 91 anos ao longo da pandemia de 2020.

 

Por seis meses e dois dias, isolei-me com minha velha no interior de Minas Gerais. Guardadas em casa, atravessamos a chegada do coronavírus no Brasil juntas, nós duas

Este é um livro-jornada que mapeia genealogias e raízes brancas. É a coleta de memórias femininas e ancestrais. É, ainda, uma pesquisa sobre origens, prazeres e desamores-próprios.

 

É uma catarse que te provoco a experimentar.

 

 

121 páginas | 30 reais + frete para todo o Brasil

um livro sobre avós e ancestralidade

"No terreiro de uma casa em um bairro de uma cidade do interior de Minas, uma jovem autora enterra e desenterra ossaturas antepassadas. Ela planta, colhe, revolve a terra, conversa com as plantas, faz alquimias no período de um ciclo lunar. Mas também lava, passa, cozinha e cuida de sua avó nonagenária. O ano é 2020, e 64 anos separam o nascimento da matriarca dessa família mineira e de sua neta, nossa narradora."

– Maria Bitarello, editora

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A Arqueologia Sentimental da Escuta

por Gênesis Naum de Farias
março de 2021

A relevância do tempo coaduna com o espaço numa única confluência, pois o infinito conjuga a força uterina da índole feminina no universo. Nesta conversão do essencial no mundo renasce a luz da energia da mulher em interlocução com a maturidade, ao refazer-se na história, na memória e no esquecimento. O esquecimento parece ser mesmo o limiar para onde tudo converge, porém a semente plantada no estro rebrota no estio e a esmo segue seu instante de luz. Essa atenção é germinada em Minha Vida Com Tê: Estudos Genealógicos, livro escrito pela jovem mineira Lia Rezende Domingues, que deixa registrado suas infindas subjetividades ao manter uma intensa comunicação com a sua avó Tê, no auge dos seus noventa anos. Eis um livro para ser celebrado em meio ao turbilhão causado pela pandemia que assola nossas frágeis bases e que tem levado muita gente ao fosso e ao desespero.

Mas as etimologias que rebenta dentro desta fulgurante escritora são os enleios daquilo que procura tornar a sobrevida um processo suportável. São pequenas considerações os textos que escreve no limiar da sobrevivência. São pequenos arranjos que refazem caminhadas para fortalecer o elo mais fecundo da subsistência, ao tocar com poesia temas tão íntimos na seara das reminiscências ao procurar seu lugar de fala nos lugares vivos da memória.

Esse recinto é a casa da avó adornada pelo conforto sublime da vida. Nas suas páginas se podem captar as centelhas de uma família de leitores que carregam no pendão as marcas da viuvez na ternura das despedidas. São memórias recorrentes a uma releitura ávida por outras descobertas e quase sempre fica evidente o impulso quixotesco de um idealismo carregado de muito lirismo, poesia e conquistas.

São achados quase arqueológicos, que se irmanam com as luzes do firmamento, encharcados nas profundas percepções deste sítio de hábitos quase desencontrados, onde as datações se perdem em meio a tantos desassossegos. Mas refazem momentos e transcrevem outras notas para acalentar os veios que ligam a autora à sua ascendência, quando faz correr como uma loba pelas veredas do mundo à procura de respostas na acabrunhada estrada do acaso.

Sua viagem sentimental é um breviário de tudo aquilo que nos faz predestinados a um dia trilhar, norteando-se pelas direções impostas pelos pontos cardeais e fazendo sempre retornar ao ponto de partida. É como se o retorno à ancestralidade elaborasse uma nova forma àquela que corre com lobos, buscando seu ponto de fuga ao se refugiar nas memórias grandiosas da avó quase centenária e dar sentido a essa localidade para onde

convergem sua escrita e seus descobrimentos mais sinceros. E nesta paragem há duas mulheres fortes divagando para não esquecerem aquilo que as une à realidade expectante.


O diário é intimista e se transforma num estudo genealógico em harmonia com a lealdade feminina ao celebrar todas as cores da sina e seguir o fluxo dos acontecimentos tardios, levando consigo as inspirações dos rituais mais sincréticos, afetuosos e singelos.

Nisso, se pode perguntar: que razões determinam o incremento crescente, no mundo do caminhante, rumo a tais práticas? É como se a senda determinasse o destino e reforçasse a evolução espiritual na indagação de uma maior aproximação com o Criador. Daí as insatisfações íntimas vão deixando os desequilíbrios emocionais ao largo, e o horizonte do caminheiro se transborda com o fenômeno dos iniciados na dialogação com as fronteiras do existir ampliando as imaginações do presente na válida e perfeita busca pelo sagrado.

Lia Rezende faz e refaz seus caminhos rumo ao maravilhoso experienciar ao deixar mais esperanças a este mundo tão cheio de paridades, vazio e indizível, onde ao praticar suas reflexões pela escuta existencial transforma sua escrita, de modo simples, naquilo que o estado de espírito Zen indica: transcende o intelecto, sintetiza tudo nas palavras que encontra, exercita o silêncio e transforma-se em gestos iluminantes na indagação pela comunhão com o Cosmos. Isto porque a felicidade se encontra na marcha. Essa imagem se parece com a ideia de um encontro pessoal com o yoga, que é sempre incerto, denso e solitário.

Poderíamos nos perguntar novamente pelas razões profundas dessa fusão mística entre a capacidade de ouvir e o andejar. Mas o que move esta sábia idealista é o esperançar e suas meditações nos fazem pensar em outras respostas, menos vazias e mais cheias de fé no ser humano, já tão demasiadamente desumano, porém infinitamente carente de tanto brilho. Nas páginas de Minha Vida Com Tê encontramos a segurança professa que penetra na quietude e que nos contagia por dentro, pois a revelação se dá diante das dúvidas, sem o limite que as palavras nos impõem. É neste espaço de diálogos fraternos que se materializam as locuções, quando, através da meditação, conseguimos alcançar a plenitude. O grande poeta Khalil Gibran nos revela, no seu O Profeta, que “o pensamento é uma ave do espaço que, numa gaiola de palavras, pode abrir suas asas, mas não pode voar.”.

É desta forma que me disperso deste estudo genealógico para me sentenciar no sentido de que outra terra sem males devemos tentar encontrar, e sempre continuar caminhando como se nunca encontrássemos o propósito, porque esperançar é preciso, e imprecisos também são os elementos alcançados nesse peregrinar pela existência...

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