"Guardo em mim a Lia da família carnal de Minas. A Lia da família do coração de Canudos. A Lia de Januária, Cocos, Uauá, Monte Santo, Paulo Afonso, Aracaju, Salvador, Rio, BH, São Paulo, Mantiqueira, Capão... Embalo relações que me admiram pela diversidade que expressam. Mulheres e homens, crianças e antigos, cada quem com uma experiência particular do Desconhecido."
Foto: @biancaamoreno
Estou comigo. Circulo pelas diversas lias que sou, feito tronco-de-vida, calibrando-me aos estímulos de cada Tempo no Espaço. Nas encruzilhadas do Mistério, constelo-me específica e vacilantemente com O Que É ao meu redor.
Guardo em mim a Lia da família carnal de Minas. A Lia da família do coração de Canudos. A Lia de Januária, Cocos, Uauá, Monte Santo, Paulo Afonso, Aracaju, Salvador, Rio, BH, São Paulo, Mantiqueira, Capão... Embalo relações que me admiram pela diversidade que expressam. Mulheres e homens, crianças e antigos, cada quem com uma experiência particular do Desconhecido.
Meus sotaques cantam combinações baianas e mineiras, de concordâncias arroceadas e, por vezes, ruidosas na cidade grande. Tenho um jeito de falar na roça e um jeito de falar na rua. Transcrevo narrações sertanejas e ganho aula de português e poesia na fala dessas gentes brasileiras. Uma alemã diz que o português inspira Intimidade. Acho isso também: tenho língua fértil, criativa, tropicalmente temperada.
Olho para essa mesma Intimidade e a vejo como deusa filha do Tempo. É confortável ter Meu Corpo próximo ao de quem conheço acumulado. Em Minas, cheiro e aperto tias e avós para apreciar o pulso da carne viva de quem amo fundo. Na Bahia, danço, abraço e beijo amizades. Reparo gêneros. Dilato regras. Experimento toques. Pessoas sensibilizam minha Pele, ocupam meu Olfato, reestruturam meu Afeto.
Um vizinho pesquisa utopias de Futuro. Penso numa Terra em estado de Saúde, povoada por aldeias diversas e harmônicas. Comunidades de gentes, bichos, vegetais e Todo O Mais inventando jeitos de brincar com abundâncias e belezas da Mãe. Modos de viver encarnando a medicina única das janelas espaço-temporais.
Meu rezo é pelo giro da Terra. Para concluirmos esta passagem de contração e contrastes violentos. Para abrirmos mais uma Primavera Dos Povos, de alegrias gratuitas vielas afora, de poesias na calçada, de cantos e serenatas e silêncios, de luares contemplados na cadência de rios fartos, de águas limpas, de solos vivos, de corpos livres, de sonhos soltos, de possibilidades majestosas.
Pra que as gentes manifestem o Mistério com Amor. Pra que a Ilusão seja toda bela e respeitosa.
Lia Rezende Domingues
Juiz de Fora, Caeté-Açu e Canudos
13 de dezembro de 2021
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