Ei, Vó. Tá aí? Há pouco foi Domingo de Páscoa e pensei que se você e eu estivéssemos em Juiz de Fora, possivelmente almoçaríamos juntas. Por não estarmos, nem eu, nem você, o dia foi diferente.
Eu, do interior da Bahia, almocei com amigas e filhotes.
Você, do lugar pra onde se vai depois de morrer, não sei o que fez.
Liguei para uma de suas irmãs, talvez pra te ter mais perto.
E, entre eu e ela, senti nosso luto recheado de saudade.
Senti mais fundo a verdade de que o Tempo passa e a gente envelhece até um dia ir embora.
Nossa família é pequena e a gente sempre se engraçou por sermos unidos. "Somos poucos, mas somos tão juntos", repetíamos, alegres e embriagados, em ceias de dias santos.
Não sei se nossa união é mesmo tanta e natural ou se criamos hábitos tão próximos às custas de uma costura que você fez e que só agora eu percebo.
Talvez a gente fosse tão unido porque você trabalhava pra isso, Vó. Como muitas mulheres, você trabalhava invisível e gratuitamente pela nossa coesão.
Neste 12/04, celebramos seu aniversário. Imagino que, à sua maneira, cada um de nós é atravessado pela ausência de seus 78 anos. Vejo os mais velhos de nossa família na lida com seus desafios, cada qual em seu canto, e as dificuldades parecem mais evidentes desde que você se foi.
Tenho medo de morrer e tenho mais medo ainda se imagino as pessoas que amo morrendo ao meu redor. Da Montanha, te conto que minha mãe e minha tia estão cada vez mais parecidas com você: vejo seus lábios quando olho para elas.
A Páscoa me confirma a entrada do Outono: uma estação em que as árvores se preparam pra receber a Morte também. Aqui, elas se firmam enquanto testemunham a queda das primeiras folhas.
Meu chão está cheio do roxo das Quaresmeiras. É o início de uma troca de peles.
Te amo e o par de lágrimas que refrescam minhas bochechas é você regando minha terra adormecida.
Do meu coração,
Lia.
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Vale do Capão, 12/04/2023
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