escritos de um carnaval pandêmico em Curaçá/BA
Eu e minhas meninas: sou três com as duas mochilas que carregam minhas casas em minhas costas. Posamos de frente ao segundo teatro mais antigo da Bahia na quarta-feira de cinzas mais recente de nossa história.
Vamos juntas ver a Lua crescer nas beiras do Velho Chico. Temos gosto por acompanhá-lo e nos admiramos na Beleza das arquiteturas das terras que ele banha.
O Reino Das Águas reflete o Reino Dos Céus enquanto entoo canções ao Divino. Talvez as Águas amplifiquem meu canto e me façam ouvir melhor. Há sempre limpezas por fazer.
Meu reencontro com a Caatinga é bem acompanhado. Meu Amigo Das Palavras é um virginiano que por vezes me parece ser feito da mesma substância que eu. É bom vê-lo caminhar a minha frente, como que me abrindo veredas, lembrando-nos que "perto de muita água, tudo é feliz".
Eu sempre tive minhas máscaras, mas agora eu as incremento física e visivelmente em meu traje mochileiro. É assim, filtrando ares e pensamentos, que me reentrego ao magnetismo do cair do Sol no Sertão.
Agradeço às casas que se abrem pra mim. Marco minha partida com presentes: deixo desenhos e palavras como migalhas a marcar-me pelas trilhas atravessadas.
Reflito que em 2019 eu era uma "Menina Que Andava". Agora, Meu Amigo Das Palavras me diz uma "Mulher Na Travessia". Sinto que sou as duas e tudo o mais que há de haver entre elas.
Lia Rezende Domingues
Petrolina/PE e Curaçá/BA, 21 de fevereiro de 2021
Comments