"Penso na Comunidade – nessa pulsão de pertencer, estruturar, ter a terra que nos é de direito. Nasci em um planeta cujo chão é de todes mas não pertence a todes. É desigual e lento o acúmulo das notas que nos permitem comprar seguranças como casa e terreno. Angustio-me nas barreiras entre Meu Corpo e a materialização de Meus Sonhos."
Insatisfaço-me mesmo nas realidades mais belas. Eis o Eterno Vazio, a saudade constante do Inominável – talvez dos céus, ou dos tempos sem corpo, quiçá da casa que tive antes de descer ao útero de minha mãe terrana.
Penso na Memória.
"UM TEMPO NO ESPAÇO" me significa isso: a captura de um instante vivido num recorte da terra. Registro instantes marcados no chão para me ter e me estudar. Para criar-me mapas de mim mesma e desvendar-me por dentro. À medida que descubro, partilho. Pois o que há dentro de mim nasce e morre no mundo. Pertence a ele. Somos de nós todos.
Penso na Comunidade – nessa pulsão de pertencer, estruturar, ter a terra que nos é de direito. Nasci em um planeta cujo chão é de todes mas não pertence a todes. É desigual e lento o acúmulo das notas que nos permitem comprar seguranças como casa e terreno. Angustio-me nas barreiras entre Meu Corpo e a materialização de Meus Sonhos.
Penso na estrutura-colônia para além do Brasil. Foi só no Meu Primeiro Sertão da Caatinga, ainda em 2019, que entendi minha cegueira colonial. Em 2021, vejo a estrutura-colônia aqui dentro, mas olho pra estrutura-colônia lá fora também. Encontrar-me com estrangeiros no Capão aguça-me as diferenças entre um jovem adulto do brasil messiânico e um jovem adulto europeu, de passaporte abre-alas e euros valorizados. Somos colônia por dentro e pra fora. Somos chacina.
Penso ainda na Amizade. Criar relações pede Tempo. Paciência. Labor. Cruzar temporadas meio curtas em cada lugar me faz dedicar vitalidade considerável às relações. Cuido dos carinhos que já desfruto e dedico-me aos que estou a criar. Às vezes, me canso de buscar grupos aos quais me unir.
O Desânimo me esquece de que é possível reanimar-me. De que me reanimarei, de fato, pois sistemas são dinâmicos e se equilibram. Sou, como o espaço que habito, desenhada de picos e vales. Tenho altos e baixos. Minha Estratégia tem sido não deixar de fazer o que me é importante, mesmo quando quero parar e desistir. Saboto minha Autossabotagem. Prossigo.
É Outono e me sinto semente entumecendo-se d'água na terra que desejo.
Sei do Inverno, mas não minto: aguardo mesmo é a Primavera.
Lia Rezende Domingues
Caeté-Açu, Chapada Diamantina/BA
9 de maio de 2021
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