Chego à roça de Maria a tempo do Dia de São João.
O profeta que anuncia a chegada do Cristo e batiza pecadores no Jordão é padroeiro de Umburana, a comunidade de Canudos que me é como casa desde que a conheci em 2019.
A missa, celebrada desde os tempos do finado pai de Maria na capela que ele se deu a fazer, é cancelada porque uma das rezadeiras se contaminou de Covid-19.
Mesmo assim, passo a manhã com três mulheres que amo a ajeitar o templo sagrado. Limpam a poeira enquanto armo o altar segundo instruções que Maria me dá.
Volto para admirá-lo no sossego frio da Noite.
Mais tarde, acende-se a fogueira e jogo dominó com as mesmas mulheres que me são professoras por aqui. É assim o nosso 24 de junho.
Caminho pela Caatinga com Ruan para que Meu Corpo assimile mais rápido a chegada ao sertão.
O excesso de carnes matadas e preparadas na roça também me ajuda a chegar.
Aterram-me.
Celebro o São Pedro – 29 de junho – pela primeira vez e descubro que, no dia do santo, viúvas e viúvos acendem o Fogo em memória a seus finados.
Sinto Meus Caminhos se abrindo de novo...
Direções nubladas, futuros distantes, estrada à vista...
Quem é que sabe do quê nesse mundo a rodar...
O Horizonte é tão amplo quanto o Céu sertanejo.
Lia Rezende Domingues
Canudos, 8 de julho de 2021
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